DANÇA COMIGO?
- eraquaseamor
- 24 de mai. de 2020
- 2 min de leitura
Atualizado: 3 de dez. de 2020
Eles eram adolescentes. Ana aos 16 anos e Bruno aos 18. Vidas opostas em gênero, número e grau. Enquanto Ana estava na escola particular, cursando o Ensino Médio, em um bairro nobre de Belo Horizonte, do outro lado da cidade, na periferia, Bruno ainda não havia saído da cama. Passou a noite com amigos, dançando hip hop e grafitando seu próprio quarto. Ele já tinha abandonado os estudos. Ela gostava de conversar com seu pai, médico bem sucedido, estudar e ouvir música clássica no quarto. Ele gostava de freestyle na bicicleta, cuidava da mãe doente e se interessava por Malcon X. Era impossível que essas almas se cruzassem. Mas, se cruzaram... O pai de Ana, preocupado, não aprovava um namoro precoce e muito menos um envolvimento sem futuro. Mas ela já estava apaixonada. E quando a paixão toma conta, o que se há de fazer?
Namoro inocente, na Praça da Liberdade. Sorvete no Xodó e conversas intermináveis na porta de casa. Ele sempre dizia que ainda ia dançar com ela no meio da rua. E esse dia chegou. Um convite para caminhar pelo bairro foi suficiente para Bruno colocar seu plano em ação. Com a ajuda de um amigo, ambos muito bem ensaiados, Bruno parou a namorada na rua e disse a deixa certeira para o amigo soltar o som: DANÇA COMIGO?
Ao fundo, uma música que vinha de não sei onde. Era Easy, do Faith No More, marcando eternamente aquele momento como uma cena de filme.
A loucura quase rebelde de Bruno chamava a atenção daquela menina que sempre foi a certinha da escola. Bruno era transgressor. Ana era medrosa.
Mas, uma mulher madura e segura, cheia de empoderamento, se revelou em Ana quando, na intenção de magoar, Bruno disse que nunca gostou da namorada. Ana se levantou, pediu calmamente para que ele confirmasse mais uma vez o que disse. Confirmou. Ela, em silêncio, virou de costas e seguiu a vida. Não houve pedido de perdão que dissolvesse a atitude. Ali, Ana percebeu que o amor próprio vale mais do que qualquer história de amor.

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